O nome desta newsletter já diz tudo, tenho Carta Branca para falar sobre assuntos espinhosos e passíveis de choro e ranger de dentes sem cancelamento, afinal, se você está aqui é porque a assinou por livre vontade – e pode deixar de assinar também, claro.
Nessa semana eu falei nos stories do Instagram sobre a série Como ficar rico, da Netflix. Quando li o nome da série pensei: “Ah, não, mais um cara cag*ndo regra de vida próspera e ostentação”, mas não é nada disso.
Ramit Sethi, o apresentador, é um consultor de finanças pessoais que ajuda pessoas a organizarem a vida financeira de acordo com aquilo que elas consideram a sua própria “rich life”. São pessoas que estão endividadas por n motivos, mas que estão dispostas a mudar essa realidade.
No entanto, à medida em que você assiste, percebe que a maneira como a maioria lida com o dinheiro é só uma consequência de algo bem mais profundo.
E então chegamos no tema espinhoso desta carta: o papel do homem e da mulher num relacionamento.
Um casal que aparece logo no primeiro episódio me chamou muita atenção. A dinâmica familiar é a seguinte: ela é executiva de contas numa empresa de software e ganha cerca de US$ 24.000 por mês – uma grana bem digna, digamos. E ele deixou o emprego de engenheiro eletricista para ser pai em tempo integral – cuidar da casa e das duas filhas.
O casal gasta US$ 27.000 por mês, ou seja, estão no vermelho, e a provedora da casa não confia no marido para cuidar das finanças – sim, ela não confia na pessoa com quem gerou dois filhos.
Se você é uma pessoa moderna que acredita nessa coisa de “novas dinâmicas familiares” ou “ressignificar os papéis de gêneros”, talvez seja melhor parar por aqui, pois a minha visão é conservadora.
Eu não acredito que essa seja uma dinâmica viável no longo prazo.
Nós, mulheres, fomos encarregadas de carregar em nossos ventres a coisa mais importante que existe: uma vida. Não estou diminuindo o papel dos homens, mas quando o assunto é gerar a vida, eles participam do prazer, mas não da consequência dele.
Os homens não têm alterações metabólicas, não ficam enjoados, não ficam com dores na coluna por conta do peso do bebê, não têm a bexiga comprimida, não sofrem as dores do parto, não ficam com a autoestima baixa por conta do corpo alterado, não têm depressão pós-parto.
São apenas fatos, os homens não têm culpa de nada disso e não são inferiores ou superiores por esse motivo.
Mas e agora, o que sobra para o varão?
A proteção e a segurança.
Eu não sou mãe, mas como mulher sei que, caso engravide, posso contar com meu marido, ele estará ali presente para me levar ao médico, cobrir minhas despesas caso eu não consiga trabalhar após o nascimento do bebê e fará tudo que é possível para me deixar confortável e tranquila diante dessa responsabilidade tão grande que é a de cuidar de um ser humano indefeso.
Se eu sou a responsável por gestar e ainda fosse a única fonte de renda da casa, sabe o que eu me tornaria? Uma tirana.
E foi exatamente isso que a moça da série se tornou.
Como não se tornar uma tirana quando você detém todos os “poderes” do lar? Eu gesto, eu dou a luz, eu alimento – as crianças e o marido.
O que sobra para esse marido? Varrer o chão e trocar fraldas?
Um dos argumentos da moça é justamente o de que “as mulheres sempre passaram por isso, elas eram bancadas pelos homens”. Opa, calma aí.
Se você estudar a sociedade pré-revolução industrial verá que, na verdade, as mulheres sempre trabalharam, só que tudo era concentrado no ambiente familiar porque, oras, não havia grandes indústrias.
Mas esse não é o foco aqui, a questão é: se algumas mulheres não trabalhavam fora de casa e “apenas” no lar, era justamente porque elas já tinham uma baita responsabilidade chamada bebê recém-nascido, logo, cabia ao homem proteger e dar segurança a ela através do trabalho.
Traduzindo: em vez de a mulher receber toda a carga, ela era dividida entre ambos, até porque sabemos que bebês recém-nascidos buscam muito mais a mãe do que o pai.
Se você analisar friamente através da ótica fisiológica, não faz sentido um ser humano que não gestou, não pariu e que não amamenta ficar em casa enquanto a mulher, com o corpo fragilizado, metabolicamente alterado, cheia de leite, sai para trabalhar.
Sim, as coisas mudaram e agora nós, mulheres, trabalhamos e fazemos nosso próprio dinheiro. Acho digno, maravilhoso e necessário – e aqui em casa nós temos até uma piada interna, pois gosto bastante de trabalhar.
Mas ainda que as coisas tenham mudado, a natureza não muda. Nós ainda gestamos e os bons homens – não aqueles que não honram o que possuem no meio das pernas – sentem a necessidade de prover e proteger.
O casal da série cometeu um erro crasso ao optar pela permanência do homem em casa, e isso fica evidente na linguagem corporal dele: as costas curvadas, as mãos escondidas entre os joelhos, um olhar de submissão, vergonha e baixa autoestima.
Pô, um cara jovem, bonito, em pleno vigor físico e mental sem acesso às finanças, podado pela esposa.
Mal começou o episódio e eu falei para o Bruno: “esse cara precisa voltar a trabalhar, ele tá acabado”. Adivinha o que o Ramit sugeriu para ele? Pois é.
Não se trata de um pensamento machista, de ter que ganhar mais do que a mulher ou de competir com ela, mas sim de senso de utilidade, de autoestima e da independência que o trabalho dará a esse homem. Além disso, a mulher se masculiniza ao carregar toda a responsabilidade nas costas, e sabe o que acontece?
Ela perde a admiração pelo marido.
Talvez ela nem saiba o porquê perdeu a admiração, mas sem dúvida alguma é isso. Ela só sabe que há algo fora do eixo e está sobrecarregada.
Mas, Bianca, então a mulher é quem deve ficar em casa?
Eu não disse isso em momento algum, cada casal precisa conhecer suas própria realidade, contudo, considere as opções desse mesmo casal: o marido também trabalhava e tinha um salário, ela ganha US$ 24.000 por mês e não está disposta a abandonar sua carreira, será que não era melhor colocar as crianças numa creche em período integral ou contratar uma babá?
“Mas aí as crianças serão educadas pela escola”, pois é, este é o mundo real dos adultos, cada escolha envolve uma renúncia: ganhar US$ 24 mil dólares como executiva de contas de uma empresa de software envolve dedicação e tempo, logo, você terá que renunciar à criação dos filhos.
Educar os filhos envolve dedicação e tempo, logo, você terá que abrir mão dos US$ 25 mil ou reinventar-se profissionalmente para que consiga um trabalho que proporcione flexibilidade de horários. Colocar seu marido em casa em tempo integral enquanto você trabalha vai afetar a sua admiração por ele, o que pode acabar em divórcio: qual é a melhor opção?
Algumas coisas são muito legais no mundo das ideias, mas a realidade é soberana. É muito bonito esse papo todo de “os pais compartilharem os mesmos deveres que as mães”, mas no fim das contas temos mulheres mandonas, sobrecarregadas e chatas que passam a desprezar seus maridos porque eles não estão cumprindo o papel que lhes cabe.
Mulher, cuidado com o que você deseja e mais cuidado ainda com essa história de “we can do it”; sim, nós podemos fazer muitas coisas, mas será que queremos e devemos fazer tudo?
Homem, não seja banana, imponha-se perante a sua mulher – se ela já chega na sua vida proibindo o futebol com os amigos, cuidado, vai piorar –, não permita ser castrado e não negue o seu papel: você deve proteger e dar segurança, carregar uma vida dentro do corpo já é pesado por si só, não seja você um peso extra na vida dela.
A escritora russa Ayn Rand foi muito sábia ao afirmar o seguinte:
Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade.
A conta sempre chega, e a desse casal custou US$ 27 mil dólares com um homem em casa com a autoestima destroçada.
Quem vai pagar?
Se nada mudar, as crianças é que pagam o preço.
De grande peso esse texto. Compartilho do mesmo pensamento. Genial🔥