Mãe não é amiga.
Hoje é Dia das Mães e eu não ousaria falar sobre outro tema, afinal, estamos falando de uma pessoa que disse sim à nossa vida.
Certa vez ouvi que “se sua mãe não tiver feito mais nada por você, lembre-se de que ela te deu a vida”.
É verdade, não é? Ainda que a sua mãe tenha sido uma péssima mãe, ela poderia ter interrompido a sua vida no vetre, mas escolheu acolhê-lo por nove meses e sofrer as dores do parto – às vezes, sozinha e julgada.
Não foi o meu caso, minha mãe me deu não só a vida, mas também atenção, amor, carinho e suporte.
Mas a minha mãe nunca foi minha amiga – graças a Deus.
Durante essa semana, apareceram várias coisas sobre o Dia das Mães no meu feed e, dentre elas, uma polêmica: no pefil da Angélica, a apresentadora e atriz, surgiu o seguinte post:
Surpreender. Mãe. Vibrador.
É claro que eu não sou careta e ri, mas passada a graça é preciso refletir sobre o rebaixamento da mãe.
Presentear a mãe com um vibrador é rebaixá-la à posição de amiga.
Significa que amigos são seres inferiores? Não, significa apenas que a sua mãe é superior.
Eu sei que dizem por aí que é preciso “horizontalizar” as relações entre pais e filhos, mas discordo, acredito que existe uma hierarquia e ela deve ser respeitada.
A minha mãe trocou minhas fraldas, me alimentou, me protegeu dos perigos do mundo, passou Merthiolate nos meus joelhos, suportou toda aquela pentelhação da adolescência, tolerou (não sem sermões) a fase em que eu saia e bebia demais e, morando sob o mesmo teto, ainda tinha a ousadia de enchê-la de desaforos.
São 37 anos de diferença entre mim e a pessoa que sofreu as dores de uma gestação, do parto e me originou.
E o que é um vibrador? Ora, é um brinquedo erótico cujo objetivo é proporcionar prazer sexual, carnal, visceral.
Quando um filho, originado através de um ato sexual, presenteia uma mãe com um vibrador, está “desvirginando” a relação de hierarquia que existe entre ambos, está reduzindo a existência da própria mãe a um nível animalesco – na verdade, chutaria que a maioria das espécies animais respeitam a hierarquia mãe-filho.
Se o filho tem a liberdade de presentear a mãe com um vibrador sem que isso gere constrangimento em ambos, para mim, é um sinal claro de que a hierarquia foi rompida em doses homeopáticas até culminar nesse ato que considero repulsivo e ultrajante.
E essa hierarquia é rompida justamente por causa da confusão entre ter um bom relacionamento versus ter amizade com a mãe.
Você pode almoçar, viajar, sentar e conversar num café com a sua mãe,coisas que você faria com um amigo ou amiga, certo? Sem dúvidas.
Porém, há um limite intrínseco que não deve ser ultrapassado: assuntos que não devem ser abordados, intimidade que deve ser respeitada.
Eu sei que a comparação pode soar grosseira, mas não dizem por aí que o cachorro – e o uísque1 – é o melhor amigo do homem? A amizade que você estabelece com seu cãozinho está no mesmo nível que, por exemplo, a do seu amigo de infância? Óbvio que não, pois existe uma hierarquia intrínseca e você sabe, apesar de hoje em dia tentarem estabelecer o contrário, que há uma superioridade na amizade e na conexão humana.
Com as nossas mães acontece a mesma coisa, apesar de se tratar de uma relação entre humanos, chegamos ao mundo depois e graças a elas.
A vida íntima da sua mãe não é da sua conta. A sua vida íntima não é da conta da sua mãe.
Hoje há todo um discurso de “mãe também é mulher e também merece sentir prazer”. Ok, beleza, mas o que os filhos tem a ver com isso? Não é um tanto estranho um filho ter qualquer tipo de preocupação ou responsabilidade diante da vida íntima e do prazer sexual da mãe?
“Com 78 anos, ela nunca tinha posto as mãos em um vibrador?", pergunta Bial. "Não.", confirma a apresentadora. "Ela me pediu porque eu comecei a fazer divulgação do 'Bliss Bullet. Aí ela viu e falou:
“Angélica, eu quero aquele negócio lá de Mina que você divulgou. Ela nem conseguia falar, essa geração é difícil. Eu dei para ela e expliquei, disse que tinha que colocar para carregar. Ela disse: Depois eu te conto.”
Eu brinquei e disse: "Não conta não. Eu não preciso saber de nada. Acho que ela adorou. Achei muito legal e muito emblemático2.
Sinceramente? Que honra e que oportunidade maravilhosa ter levado uns baita sermões da minha mãe quando a ultrajava com grosserias, o “fala direito comigo, sou tua mãe, e não tuas amigas”, estabeleceu um limite que, graças a Deus, impediu um diálogo semelhante ao da Angélica com a própria mãe.
Desculpem os moderninhos, mas estou no time do Nelson Rodrigues: sou reacionária, reajo contra tudo que não presta.
Mãe, te amo, obrigada por ter estabelecido limites, hoje sei bem qual é o meu lugar. ❤️
E lanço, copo à mão, novo ditado: O uísque é o cão engarrafado? (Ave Canem - Vinícius de Moraes).
https://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2023/05/angelica-fala-sobre-vibrador-que-deu-de-presente-para-mae-de-78-anos-acho-que-ela-adorou.shtml